VÍNCULO:
Disse
São João da Cruz (Espanha 1542 – 1591), numa de suas cartas:
“Pouco importa se uma ave está atada por um fio tênue ou grosso, pois, até que o rompa e possa voar, estará presa, seja por um, seja por outro. É verdade que sendo tênue será mais fácil de romper; porém, por mais fácil que seja, se não for quebrado, a ave não poderá alçar vôo. Assim é com a alma que tem vínculo com alguma coisa: ainda que tenha muitas virtudes, não alcançará a liberdade da divina união. Pois o apetite e o laços são para a alma como a rêmora que se fixa aos navios, e que, mesmo sendo um peixe muito pequeno, se consegue agarrar-se a ele, o faz prosseguir tão lentamente que não deixa chegar ao porto nem navegar com liberdade. É uma lástima ver algumas almas como ricos navios, carregados de tesouros, obras, exercícios espirituais, virtudes e dádivas que Deus lhes dá, mas, por não terem ânimo suficiente para libertar-se de algum gosto, ou afeição, ou vínculo – que são a mesma coisa -, nunca vão adiante, nem chegam ao porto da perfeição; e para isso teriam apenas que dar um bom vôo e romper de vez aquele afeto que as prende ou desligar-se daquela rêmora-apetite que as impede de avançar”.
Referência para leitura: DAS LUTAS À PAZ, de Trigueirinho,
Editora Pensamento.
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